Continuando...
Ora, calma lá. Santa Catarina desde sempre vota muito, muito mal. Talvez seja o eleitorado que mais faça besteira nas urnas do país. Jamais tivemos em Santa Catarina um governo minimamente progressista, capaz de resolver problemas básicos e dividir um pouco a oferta de políticas públicas com os mais pobres. Fomos e continuaremos sendo, de acordo com o resultado eleitoral de 3 de outubro, governado por uma elite das piores, mais mesquinhas e mais corruptas do Brasil. Não por acaso, e aqui vai uma provocação para os que se julgam melhores, somos uma espécie de Piauí do Sul (sem querer desmerecer o Piauí) em muitos aspectos, cito os principais: salário dos professores, democracia nas escolas, saneamento básico, asfalto urbano e rodovias, vagas em ensino superior público, autoritarismo e clientelismo político.
Na região de Jaraguá do Sul, um exemplo que conheço bem, enche o saco a tal “cultura do trabalho”, que está nos hinos, na publicidade, nos discursos, nas bandeiras e nos hábitos. De fato trabalhamos bastante na região. Nem mais nem menos do que em outras do país, como alguns dizem – com exceção dos professores que trabalham 60 horas porque ganham pouco, ainda que alguns mintam dizendo que fazem porque gostam. É sim uma região de operários e, portanto, em sua maioria, uma população de trabalhadores. Pois bem, assim como na última eleição pra prefeito, quem elegemos agora? Alguém que nada tem a ver minimamente com trabalho, um playboy inútil chamado Carlos Chiodini. Sua família, se não bastasse vender combustível caro para todos, já algum tempo tem se beneficiado do poder.
Foi esse mesmo deputado, então suplente, que fez o sórdido papel de assumir a vaga em 2008 para votar a privatização da Previdência dos funcionários públicos, quando a base governista “titular” com medo da reação dos sindicatos pediu licença. Eu estava lá nesse dia, e vi um representante da nossa região se esconder nas salas da ALESC, servindo apenas pra apertar o botão do voto, contra todos nós. Agora, na condição de eleito, terá quatro anos para servir aos interesses da burguesia local e estadual, mas foram os trabalhadores que deram mais que quarenta mil votos a ele.
O pior ficou para o Senado. Vá lá Luiz Henrique da Silveira que, como ex-governador e com a grana que gastou na campanha, tinha que se eleger. Mas a segunda vaga, para um mandato de 8 anos (vejam bem!) ficou com o proto-fascista Paulo Bauer. Ele que não tem lado, era Amin, hoje é o que for governo. Ele que foi por duas vezes secretário de Estado da Educação e só atacou o direito e a dignidade dos trabalhadores. Ajudou a transformar a educação pública do estado na farsa que é hoje, com índices manipulados, muita aparência e pouca qualidade.
A educação em SC só não é pior graça ao esforço dos professores e funcionários de escola. Mas estes estão quase todos, endividados, doentes, sobrecarregados e humilhados. Foi ele quem reduziu a gratificação de triênios, inventou prêmios que nos obrigam a trabalhar doentes e nunca reajustou os salários (para além de incorporar abonos divididos em muitas vezes). Foi ele quem negou os direitos históricos dos educadores (licenças, paridade entre ativos e aposentados). Que proibiu o licenciamento dos professores para cursos de pós-graduação. Que privatizou a merenda escolar: duplicou os gastos e demitiu as merendeiras. Dificultou a contratação de professores substitutos, deixando os alunos sem aula.
Paulo Bauer fechou escolas e negou-se a atender a educação infantil. Foi ele quem não recebeu o SINTE/SC nos últimos 30 meses para tratar as reivindicações do magistério, e que das poucas vezes que recebeu nosso sindicato foi truculento e desrespeitoso. Que tratou a categoria com ameaças, punições e descontos. Que não cumpriu a Lei 170, mantendo as salas de aula superlotadas. Que dificultou a aposentadoria dos professores. Quando secretário também foi sua pasta que promoveu o vergonhoso e famigerado “curso” no Beto Carreiro para seus prepostos. Foi o “nosso” novo senador que quando perguntando por eleições de diretores de escola (dez anos de século XXI e nós nesse atraso) afirmou para a imprensa que professores escolherem diretor de escola era a mesma coisa que o preso escolher o diretor do presídio. Paulo Bauer contratou empresas de outros estados, que respondem processos judiciais, para fornecer a merenda nas escolas catarinenses, tirando recursos de Santa Catarina. E que, quando deputado, manteve em Brasília um funcionário fantasma. Eis o conjunto de sua obra.
Tiririca pode fazer um mandato ruim ou medíocre, improvável que faça algo de bom. Mas, certamente, Chiodini, Colombo, LHS, Pavan e, principalmente, Paulo Bauer já fizeram e vão continuar a fazer mal para o povo catarinense. O palhaço de São Paulo terá sua platéia, que – se livrados do mal – podem ao menos se divertir com ele. Já ouvimos inúmeras histórias de como os palhaços, ao mesmo tempo em que fazem rir, são tristes e melancólicos fora dos picadeiros. Pois bem, em Santa Catarina, os palhaços somos nós, fazendo com que a corja no poder se divirta e sofrendo e chorando por mais quatro ou oito anos.
Nos resta, ao menos, a luta.
Rodrigo Guidini Sonn, ex-professor da rede pública estadual de Santa Catarina e mestrando em Ciências Sociais Aplicadas – UEPG/PR
Fonte: Blog do Tupã http://tupanfloripa.blogspot.com/